Os bichos andavam alarmados, com medo do homem perigoso. Nem sabiam que jeito tinha, mas o leãozinho vaidoso convidou sua amiga, a patinha:
Venha ver, com ele vou
lutar. Essa caçada, tão diferente, é o que agora vou contar.
Numa linda ilha no meio
do mar, rica de árvores, de frutas, de flores, rios, lagos e
cachoeiras, viviam em liberdade mil espécies de animais. O homem não
tinha chegado até lá e nenhum dos animais que moravam ali o
conhecia.
Certa noite, uma
patinha que vivia nessa ilha teve um sonho maravilhoso.
Apareceu-lhe a rainha
das patas, que lhe revelou um segredo, dizendo-lhe bem claro:
- Se você nadar três
dias e três noites seguidas, em direção ao levante, encontrará
uma terra encantada.
A patinha acordou e se
pôs imediatamente a caminho. Depois de dois dias de viagem pelo mar,
chegou à praia e se atirou na areia, quase morta. Tinha nadado
tanto! Dormiu de cansaço e tornou a sonhar com a rainha que lhe
dizia:
- Patinha, você se
enganou! Eu disse para nadar para o levante e não para o poente. . .
Vindo para cá, você cometeu um erro, pois aqui vive um ser
terrível: o homem! Tome cuidado!
A patinha acordou
sobressaltada. Cheia de medo saiu correndo à procura de um abrigo
contra o ser terrível que se chamava homem.
Por fim encontrou um
leãozinho, que de preguiça nem abriu os olhos quando lhe indagou:
- Quem é você e a que
espécie animal pertence?
- Sou uma patinha, da
família das aves. E você?
O leãozinho
entusiasmou-se e respondeu cantando:
" Da floresta eu
sou rei (por enquanto é o meu pai, mas um dia eu serei). Sou feroz e
poderoso, todos ficam a tremer quando urro majestoso. Que raiva, se
desafino e Mamãe fico a chamar."
A patinha tremendo de
medo, pediu ajuda àquele personagem tão importante que tivera a
sorte de encontrar, dizendo:
- Você, que é filho
do rei da floresta, podia tentar liquidar o homem, para os animais
viverem tranquilos.
- Você tem razão,
patinha. . . Meu pai me aconselhou a fugir do homem, mas já estou
bastante grande para atacá-lo. Venha comigo.
E o leãozinho pôs-se
a caminhar seguido pela patinha, que tentava acertar o passo pelo
dele, muito confiante.
- Veja, patinha! Que
nuvem de poeira!
- Não será o homem? -
indagou ela.
- Acho que não. . .
-respondeu o leão. - É um quadrúpede!
Quando se aproximaram,
indagou:
- Animal desconhecido,
diga quem é!
Diante deles estava um
burrinho, que disse:
- Pertenço à espécie
asinina e estou fugindo do homem. Ele quer que eu trabalhe muito e
coma pouco.
- Que vergonha! - falou
a patinha.
- Você teve muita
sorte em me encontrar - afirmou o leãozinho. - Estou conduzindo meu
exército contra o homem.
- Que exército? - quis
saber o burro.
O leãozinho não se
apertou:
- Bem, por enquanto o
meu exército é esta patinha. Mas, se você se une a nós, eu dou a
você o posto de cabo e a patinha eu deixo como simples soldado.
- Aceito - concordou o
burro, zurrando de satisfação com o posto.
A patinha não entendia
nada de postos, por isso nem ligou. O pequeno exército continuou sua
marcha em busca do homem. Daí a pouco apareceu no horizonte outra
nuvem de pó.
O leãozinho ordenou:
- Batalhão. . . alto
lá! Estão ouvindo um galope? - E, dirigindo-se ao cavalo que se
aproximava, indagou - Quem é você e por que corre assim?
- Eu sou um cavalo,
pertenço à espécie equina e corro para fugir do homem, que tem
mania de montar nas minhas costas - explicou o recém chegado.
- Venha conosco e
estará seguro - convidou o leãozinho.
- Vou mesmo com vocês
- afirmou o cavalo.
- Batalhão. . .
marche! - comandou o capitão leãozinho.
Retomaram o caminho até
que o leãozinho ordenou:
- Batalhão. . . alto!
- Mais uma nuvem de pó
- observou a patinha. - Quem será agora?
- Silêncio aí na
tropa! Falo eu, que sou o comandante. Vejam! Era um camelo, por isso
a nuvem de pó desta vez era tão grande.
- Sim, sou um camelo e
estou correndo para fugir do homem.
- Não diga! Até você,
que é desse tamanho? - admirou-se o leão.
- O homem tem algo mais
que a força, é a astúcia - esplicou o camelo e isto o ajuda a
vencer sempre.
- Veremos! - disse o
leãozinho. - Vamos combater o homem. Quer vir conosco?
- De boa vontade-
respondeu o camelo. - Quero ver o que vocês vão fazer quando o
encontrarem.
- Batalhão. . .
marche!
O leãozinho seguiu à
frente da tropa, até que de novo ordenou:
- Batalhão. . . alto!
- Não estou vendo
nenhuma nuvem de pó- observou a patinha.
- Silêncio aí na
tropa! Quem fala sou eu! Não é nenhuma nuvem de pó. É um ser
estranho que carrega madeira na cabeça e traz pendurada no braço
uma caixa com os ferros!
- Não será o homem? -
indagou a patinha.
- Batalhão. . . alto!
- comandou o leãozinho. - Eu, que sou mais forte, vou descobrir quem
é este ser estranho.
O ser era mesmo um
homem, um carpinteiro, carregando madeira e ferramentas. Quando viu o
leãozinho, planejou logo capturá-lo. Decidiu que o melhor meio
seria usar astúcia e por isso falou manhoso:
- Filho do rei da
selva, ajude-me, que estou em apuros.
O leãozinho achou que
o estranho reconhecia sua superioridade e respondeu:
- Diga-me antes a que
espécie pertence e qual é o seu problema.
- Pertenço à espécie
dos carpinteiros e sou perseguido pelo homem.
- Venha comigo, que vou
liquidar o homem - rugiu o leãozinho.
- Não posso ir junto
porque tenho de levar estas madeiras que carregava na cabeça.
- Para quem você vai
levar essas madeiras? - quis saber o leãozinho.
- São uma encomenda do
ministro do pai de Vossa Alteza. Quer que eu faça uma casa para ele.
- E você vai fazer a
casa da pantera, que é apenas o ministro do meu pai, antes de fazer
a minha, que sou filho do rei da floresta?
- Posso fazer uma casa
para você - assegurou o carpinteiro, mas eu nem sabia que você
queria uma casa!
- Quero a casa e exijo
que seja imediatamente - ordenou o leãozinho.
Conforme disse, o
leãozinho ergueu as patas da frente e empurrou o carpinteiro pelos
ombros fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado no chão.
- Quero que faça uma
casa para mim.
- E a pantera? -
indagou o carpinteiro.
- A pantera que se
dane! Comece logo a minha casa.
O carpinteiro que era
muito manhoso, tinha conseguido o que queria. Desde o começo que não
contara que era um homem, fizera o plano de aprisionar o leãozinho e
só para lográ-lo inventara essa história de construir uma casa.
Quando o trabalho já
estava quase pronto, disse com muito jeito:
- Experimentar para
quê?
- Não quero que depois
você se queixe que ficou muito estreita ou mal ventilada - explicou
o carpinteiro.
O leãozinho meteu-se
na caixa, embora com certa dificuldade, queixando-se:
- Puxa! Não consigo
enfiar todas as pernas aqui dentro!
O carpinteiro
estimulava:
- Precisa um pouquinho
de jeito para morar em casa.
O leãozinho suava para
acomodar-se e dizia:
- Já estou quase
dentro.
- Força, amigo!
- Agora vou
experimentar o teto - falou o carpinteiro.
O carpinteiro bem
depressa colocou a tampa na caixa e pregou com marteladas rápidas e
seguras. Lá dentro o leãozinho gritava:
- Carpinteiro! Abra a
porta, que a casa é muito estreita.
- Mais estreita vai ser
a jaula - respondeu o carpinteiro.
- Você queria matar o
homem e o homem aprisionou você.
- Quer dizer que você
é um homem? - admirou-se o leãozinho.
- Claro que sim -
afirmou o carpinteiro. - E venci sua força e ferocidade com minha
astúcia e inteligência.
Ao verem o que
acontecia, o burro, o cavalo, o camelo e a patinha acharam que estava
dissolvido o batalhão de caça ao homem.
O burro comentou: O
leãozinho caiu como um pato.
A patinha respondeu: -
Deixou-se prender como um burro, isso sim!
O cavalo aconselhou: -
Melhor voltarmos à nossa vida de antes.
- Acho que eu tenho
mesmo é que puxar carroça - disse o burro.
- E eu de carregar o
homem - conformou-se o cavalo.
- Eu vou me reunir a
uma caravana no deserto - foi a despedida do camelo, afastando-se do
grupo.
A patinha tomou o rumo
do mar e se pôs a nadar em direção a sua ilha rica de árvores,
frutas, flores, rios, lagos e cachoeiras, onde o ser terrível e
astuto, chamado homem, não tinha chegado ainda.
Fábula Oriental