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O Morcego e a Doninha

Serenidade é a chave para vencer um obstáculo.

Um Morcego desajeitado caiu acidentalmente no ninho de uma Doninha, que, com um bote certeiro o capturou.

Atemorizado, o Morcego pediu que esta lhe poupasse a vida, mas a Doninha não queria lhe dar ouvidos.

-"Você é um Rato," ela disse, "e Eu sou por natureza inimiga dos Ratos. Cada Rato que pego, evidentemente, me serve de jantar, essa é a lei."

-"Mas, a senhora veja bem, eu definitivamente, não sou um Rato!" tentou se explicar o infeliz Morcego. "Veja minhas asas. Você já viu um Rato que é capaz de voar? Claro que sou apenas um tipo de pássaro, de uma variedade, podemos afirmar, um tanto exótica. Por favor me deixe ir embora!".

A Doninha, olhando melhor para sua vítima, concordou que ele não era um Rato e o deixou ir embora. Mas, alguns dias depois, o mesmo atrapalhado Morcego, cegamente, caiu outra vez no ninho de outra Doninha.

Ocorre que Esta Doninha era inimiga declarada de todos os pássaros, e logo que o tinha em suas garras, preparou-se para abocanhá-lo.

-"Você é um pássaro," ela Disse, "por isso mesmo o comerei!"

-"O que?", exclamou o Morcego, "Eu, um pássaro! Isso é quase um insulto. Todos os pássaros possuem penas! Cadê minhas penas, você é capaz de vê-las? Claro que não sou nada além de um simples Rato. Tenho até um lema que é: Abaixo todos Gatos!"

E o Morcego teve sua vida poupada pela segunda vez.

Moral da História: Sábio é aquele que é flexível, que sabe analisar a situação e agir de acordo com as circunstâncias. O sábio aprende a tirar do problema uma solução incapaz de criar outros problemas.

Fábula de Êsopo.

O Cavalo e o Seu Cuidador

O fingimento é a natureza original do Hipócrita...

Um zeloso empregado de uma cocheira, costumava passar horas, e as vezes dias inteiros, limpando e escovando o pelo de um cavalo que estava sob seus cuidados.

Agindo assim, passava para todos a impressão de que era gentil para com o animal, que se preocupava com o seu bem estar.

Entretanto, ao mesmo tempo que o acariciava diante de todos, sem que ninguém suspeitasse, roubava a maior parte dos grãos de aveia destinados à alimentar o pobre animal, e os vendia às escondidas para obter lucro.

Então o cavalo se volta para ele e diz:

-"Acho apenas que se o senhor de fato desejasse me ver em boas condições, me acariciava menos e me alimentava mais..."

Moral da História: Devemos desconfiar sempre dos exibicionistas que fazem questão de promover publicamente suas próprias virtudes. Os Bajuladores não são confiáveis.

Fábula de Êsopo.

O Filhote de Cervo e sua Mãe

Não é o Medo que faz o covarde, mas o covarde que faz o Medo...

Certa vez, um jovem Cervo conversava com sua mãe:

-"Mãe você é maior que um Lobo. É também mais veloz pois possui pernas fortes e agéis, possui ainda chifres poderosos para se defender, por que então você tem tanto medo deles?"

A Mãe amargamente sorriu e disse:

-"Tudo que você falou é a mais pura verdade meu filho, mesmo assim, quando eu escuto um simples ganido de Lobo e percebo sua aproximação, me sinto fraca e só penso em correr o mais que puder..."

Moral da História: Para a maioria das pessoas é mais cômodo conviver com seus medos e fraquezas, mesmo sabendo que são capazes superar cada uma dessas coisas.

Fábula de Êsopo.

O Cão Raivoso

A honradez começa pela modéstia...

Um cachorro costumava atacar de surpresa, e morder os calcanhares de quem encontrasse pela frente.

Então, seu dono pendurou um sino em seu pescoço, pois assim podia alertar as pessoas de sua presença, onde quer que ele estivesse.

O cachorro cresceu orgulhoso, e vaidoso do seu sino, caminhava tilintando-o pela rua, como se aquilo fora um grande trófeu por méritos, que o tornava superior aos demais.

Um velho e experiente cão de caça então lhe disse:
-"Por quê você se exibe tanto? Este sino que carrega, acredite, não é nenhum indício de honraria, mas antes disso, uma marca de desonra, um aviso público para que todas as pessoas o evitem por ser perigoso."

Moral da História: Engana-se quem pensa que o fato de ser notório o tornará honrado. Quem Busca Notoriedade é Carente de Honra.

Fábula de Êsopo.

O porco-espinho



Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio.
Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor.

Por isso, decidiram se afastar uns dos outros e voltaram a morrer congelados.

Então precisavam fazer uma escolha: ou desapareceriam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros.

Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos.

Aprenderam assim a conviver com pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram.

Moral da história: o melhor do relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro, e admirar suas qualidades.

A corrida dos sapinhos



Era uma vez uma corrida de sapinhos!
O objetivo era atingir o alto de uma grande torre.
Havia no lugar uma multidão assistindo.
Muita gente para vibrar e torcer por eles.
Começou a competição;
Mas como a multidão não acreditava que os sapinhos pudessem alcançar o alto daquela torre, o que mais se  ouvia era :
- Que pena! Esses sapinhos não vão conseguir.
E os sapinhos começaram a desistir.
Mas havia um que persistia e continuava a subida em busca do topo.
A multidão continuava gritando:
- Que pena!!! Não vão conseguir!
E os sapinhos estavam mesmo desistindo um por um, exceto aquele que continuava tranquilo embora cada vez mais arfante.
Já no final da competição todos desistiram, menos ele.
A curiosidade tomou conta de todos.
Queriam saber o que tinha acontecido... e assim, quando foram perguntar ao sapinho vencedor como ele havia conseguido concluir a prova, aí sim conseguiram descobrir...
Ele era surdo.

Moral da história: Seja "surdo" quando alguém te diz que você não pode realizar seus sonhos.

O fazendeiro, seu filho e o burro



Um fazendeiro e seu filho viajavam para o mercado, levando consigo um burro. Na estrada, encontraram umas moças salientes, que riram e zombaram deles:

- Já viram que bobos? Andando a pé, quando deviam montar no burro?

O fazendeiro, então, ordenou ao filho:

- Monte no burro, pois não devemos parecer ridículos. O filho assim o fez.

Daí a pouco, passaram por uma aldeia. À porta de uma estalagem estavam uns velhos que comentaram:

- Ali vai um exemplo da geração moderna: o rapaz, muito bem refestelado no animal, enquanto o velho pai caminha, com suas pernas fatigadas.

- Talvez eles tenham razão, meu filho, disse o pai. Ficaria melhor se eu montasse e você fosse a pé. Trocaram então as posições.

Alguns quilômetros adiante, encontraram camponesas passeando, as quais disseram:

-A crueldade de alguns pais para com os filhos é tremenda! Aquele preguiçoso, muito bem instalado no burro, enquanto o pobre filho gasta as pernas.

- Suba na garupa, meu filho. Não quero parecer cruel, pediu o pai. Assim, ambos montados no burro, entraram no mercado da cidade.

- Oh!! Gritaram outros fazendeiros que se encontravam lá. Pobre burro, maltratado, carregando uma dupla carga! Não se trata um animal desta maneira. Os dois precisavam ser presos. Deviam carregar o burro às costas, em vez de este carregá-los.

O fazendeiro e o filho saltaram do animal e carregaram-no. Quando atravessavam uma ponte, o burro, que não estava se sentindo confortável, começou a escoicear com tanta energia que os dois caíram na água.

Moral da história: Quem a todos quer ouvir, por ninguém é ouvido.

Fábula de Êsopo.

A coruja e a águia

A coruja e a águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
- Basta de guerra - disse a coruja. O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

- Perfeitamente - respondeu a águia. - Também eu não quero outra coisa.

- Nesse caso combinemos isso: de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

- Muito bem. Mas como vou distinguir os teus filhotes?

- Coisa fácil. Sempre que encontrares uns filhotes lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheio de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

- Está feito! - concluiu a águia.

Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

- Horríveis bichos! - disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os. Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.

- Quê? - disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles monstreguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...

Moral da história: Seja sempre sincero e verdadeiro nas suas palavras.

Fábula de Êsopo.

O rato da cidade e o rato do campo



Certo dia um ratinho do campo convidou seu amigo que morava na cidade para ir visitá-lo em sua casa no meio da relva. O ratinho da cidade foi, mas ficou muito chateado quando viu o que havia para jantar: grãos de cevada e umas raízes com gosto de terra.

– Coitado de você, meu amigo! – exclamou ele. – Leva uma vida de formiga! Venha morar comigo na cidade que nós dois juntos vamos acabar com todo o toucinho deste país!

E lá se foi o ratinho do campo para a cidade. O amigo mostrou para ele uma despensa com queijo, mel, cereais, figos e tâmaras. O ratinho do campo ficou de queixo caído. Resolveram começar o banquete na mesma hora. Mas mal deu para sentir o cheirinho: a porta da despensa se abriu e alguém entrou. Os dois ratos fugiram apavorados e se esconderam no primeiro buraco apertado que encontraram. Quando a situação se acalmou e os amigos iam saindo com todo o cuidado do esconderijo, outra pessoa entrou na despensa e foi preciso sumir de novo. A essas alturas o ratinho do campo já estava caindo pelas tabelas.

– Até logo – disse ele. – Já vou indo. Estou vendo que sua vida é um luxo só, mas para mim não serve. É muito perigosa. Vou para minha casa, onde posso comer minha comidinha simples em paz.

Moral da história: Mais vale uma vida modesta com paz e sossego que todo o luxo do mundo com perigos e preocupações.

Fábula de Êsopo.

O camponês e os filhos



Um camponês tinha chegado ao fim de sua vida.

Como queria que os filhos soubessem o que era cuidar da terra, chamou-os e lhes disse:

- Meus filhos, chegou a minha hora. Quanto a vocês, nada lhes faltará se procurarem o que escondi nas minhas vinhas.

Os filhos pensaram que ele estivesse falando de algum tesouro.

Uma vez o pai morto, eles cavaram todo terreno, mas em vão.

Nada de tesouro, mas a vinha bem lavrada deu-lhes uva em abundância.

Moral da história:O tesouro é o trabalho.

Fábula de Êsopo.

O asno e a carga de sal



Um asno carregado de sal atravessava um rio. Um passo em falso e ei-lo dentro da água.

O sal então derreteu e o asno se levantou mais leve. Ficou todo feliz.

Um pouco depois, estando carregado de esponja às margens do mesmo rio, pensou que se caísse de novo ficaria mais leve e caiu de propósito nas águas.

O que aconteceu? As esponjas ficaram encharcadas e, impossibilitado de se erguer, o asno morreu afogado.

Moral: Algumas pessoas são vítimas de suas próprias artimanhas.

Fábula de Êsopo.

A formiga e a pomba


Uma Formiga foi à margem do rio para beber água, e sendo arrastada pela forte correnteza, estava prestes a se afogar.
Uma Pomba, que estava numa árvore sobre a água observando a tudo, arranca uma folha e a deixa cair na correnteza perto da mesma. Subindo na folha a Formiga flutua em segurança até a margem.

Eis que pouco tempo depois, um caçador de pássaros, oculto pelas folhas da árvore, se prepara para capturar a Pomba, colocando visgo no galho onde ela repousa, sem que a mesma perceba o perigo.

A Formiga, percebendo sua intenção, dá-lhe uma ferroada no pé. Do susto, ele deixa cair sua armadilha de visgo, e isso dá chance para que a Pomba desperte e voe para longe, a salvo.

Moral da História: Quem é grato de coração, sempre encontrará uma oportunidade para demonstrar sua gratidão.

 Fábula de Êsopo.

As duas cabras



Duas Cabras brincavam alegremente sobre as pedras, na parte mais elevada de um vale montanhoso. Estavam separadas uma da outra por um abismo, em cujo fundo corria um caudaloso rio que descia das montanhas.

O tronco de uma árvore caída era o único e estreito meio de cruzar de um lado ao outro do despenhadeiro, e nem mesmo dois pequenos esquilos eram capazes de cruzá-lo ao mesmo tempo, com segurança.

Aquele estreito e precário caminho era capaz de amedrontar mesmo o mais bravo dos pretendentes à travessia, exceto aquelas Cabras. Mas, o orgulho de cada uma delas, não permitiria que uma permanecesse diante da outra, sem que isso não representasse uma afronta aos seus domínios, mesmo estando separadas pela funda garganta.

Então resolveram, ao mesmo tempo, atravessarem o estreito caminho, para brigarem entre si, com o propósito de decidir qual delas deveria permanecer naquele local.

E no meio da travessia as duas se encontraram, e começaram a se agredir mutuamente com seus poderosos chifres. Desse modo, firmes na decisão de levar adiante o forte desejo pessoal de dominação, nenhuma das duas mostrava disposição em ceder caminho à adversária.

Assim, pouco tempo depois, acabaram por cair na profunda grota, e logo foram arrastadas pela forte correnteza do rio.

Moral da História: Despojar-se do orgulho e vaidade.

Fábula de Êsopo.

Lobo em pele de cordeiro

Um dia, o lobo teve a ideia de mudar sua aparência para conseguir comida de uma forma mais fácil.

Então, vestiu uma pele de cordeiro e saiu para pastar com o resto do rebanho, despistando totalmente o pastor.

Para sua sorte, ao entardecer, foi levado junto com todo o rebanho para um celeiro.

Durante a noite, o pastor foi buscar um pouco de carne para o dia seguinte. Chegando ao celeiro, puxou a primeira ovelha que encontrou. Era o lobo fingindo ser um cordeiro.

Moral da História: As consequências vêm quando fingimos ser o que não somos ou quando tentamos enganar alguém.

 Fábula de Êsopo.

O mosquito e o touro

Um mosquito que estava voando, a zunir em volta da cabeça de um Touro, depois de um longo tempo, pousou em seu chifre, e pedindo perdão pelo incômodo que supostamente lhe causava, disse: 

-Mas, se meu peso incomoda o senhor, por favor, é só dizer e eu irei imediatamente embora...

Ao que lhe respondeu o Touro: 

-Oh, nenhum incômodo há para mim! Tanto faz você ir ou ficar, e, para falar a verdade, nem sabia que você estava em meu chifre.

Moral da História: Quanto menor a mente, maior a presunção.

 Fábula de Êsopo.

O vento e o Sol


O vento e o sol estavam disputando qual dos dois era o mais forte.

De repente, viram um viajante que vinha caminhando.

- Sei como decidir nosso caso. Aquele que conseguir fazer o viajante tirar o casaco, será o mais forte.
Você começa!- propôs o sol, retirando-se para trás de uma nuvem.
O vento começou a soprar com toda a força. Quanto mais soprava, mais o homem ajustava o casaco ao corpo. Desesperado, então o vento retirou-se.

O sol saiu de seu esconderijo e brilhou com todo o esplendor sobre o homem, que logo sentiu calor e despiu o paletó.

Moral da história: O amor constrói, a violência arruina.

A menina do leite


A menina era só alegria.
Era a primeira vez que iria à cidade, vender o leite de sua querida vaquinha.
Colocou sua melhor roupa, um belo vestido azul,e partiu pela estrada com a lata de leite na cabeça.
Ao caminhar, o leite chacoalhava dentro da lata.
A menina também, não conseguia parar de pensar.
"Vou vender o leite e comprar ovos, uma dúzia."
"Depois, choco os ovos e ganho uma dúzia de pintinhos."
"Quando os pintinhos crescerem, terei bonitos galos e galinhas."
"Vendo os galos e crio as galinhas, que são ótimas para botar ovos."
"Choco os ovos e terei mais galos e galinhas."
"Vendo tudo e compro uma cabrita e algumas porcas."
"Se cada porca me der três leitõezinhos, vendo dois, fico com um e ..."
A menina estava tão distraída em seus pensamentos, que tropeçou numa pedra, perdeu o equilíbrio e levou um tombo.
Lá se foi o leite branquinho pelo chão.
E os ovos, os pintinhos, os galos, as galinhas, os cabritos, as porcas e os leitõezinhos pelos ares.

Moral da história: Não se deve contar com uma coisa antes de conseguí-la.

O mito da caverna



Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimato, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.

Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco - É bem possível.

Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco - Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?

Glauco - Assim terá de ser.

Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado à endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras.

Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?

Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.

Glauco - Necessariamente.

Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza Sócrates.

Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?

Glauco - Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco - Sem nenhuma dúvida.

Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.

Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

(Platão, A República, v. II, p. 105 a 109)

O Rato Cidadão e Montesinho


Um rato que morava na Cidade, acertando de ir ao campo, foi convidado por outro, que lá morava, e levando-o à sua cova, comeram ambos cousas do campo, ervas e raízes.

Disse o Cidadão ao outro: – Por certo, compadre, tenho dó de ti, e da pobreza em que vives. Vem comigo morar na Cidade, verás a riqueza, e a fartura que gozas. Aceitou o rústico e vieram ambos a uma casa grande e rica, e entrados na despensa, estavam comendo boas comidas e muitas, quando de súbito entra o despenseiro, e dois gatos após ele. Saem os Ratos fugindo. O de casa achou logo seu buraco, o de fora trepou pela parede dizendo:

Ficai vós embora com a vossa fartura; que eu mais quero comer raízes no campo sem sobressaltos, onde não há gato nem ratoeira. E assim diz o adágio: Mais vale magro no mato, que gordo na boca do gato.
Moral da história: Mais vale magro no mato, que gordo na boca do gato.

O Leão e o Rato

Um Leão dormia sossegado, quando foi despertado por um Rato, que passou correndo sobre seu rosto.

Com um bote ágil ele o pegou, e estava pronto para matá-lo, ao que o Rato suplicou:

"Ora, veja bem, se o senhor me poupasse, tenho certeza que um dia poderia retribuir sua bondade."

Apesar de rir por achar rídícula tal possibilidade, ainda assim, como não tinha nada a perder, ele resolveu libertá-lo.

Aconteceu que, pouco tempo depois, o Leão caiu numa armadilha colocada por caçadores. Assim, preso ao chão, amarrado por fortes cordas, completamente indefeso e refém do fatídico destino que certamente o aguardava, sequer podia mexer-se.

O Rato, reconhecendo seu rugido, se aproximou e roeu as cordas até deixá-lo livre. Então disse:

"O senhor riu da simples ideia de que eu seria capaz, um dia, de retribuir seu favor. Mas agora sabe, que mesmo um pequeno Rato é capaz de fazer um favor a um poderoso Leão."

Moral da História: Nenhum ato de gentileza é coisa vã. Não podemos julgar a importância de um favor, pela aparência do benfeitor.

Fábula de Êsopo.

O Cervo e o seu Reflexo


Um Jovem Cervo, que estava bebendo água num córrego de água cristalina, viu a si mesmo refletido na límpida água. Ficou encantado com as formas e arcos dos seus imponentes chifres, mas ficou muito decepcionado e envergonhado, com suas delgadas pernas.

E suspirou: “Como é possível tal coisa, ser dotado de tão desprezíveis e desajeitadas pernas, quando, ao mesmo tempo, fui agraciado com tão bela e majestosa coroa.”

Nesse momento ele sentiu o cheiro de uma pantera, que de repente saltou de dentro do mato onde estava à sua espreita, na ânsia de capturá-lo. Mas, apesar de ser mais ágil, de ter mais velocidade, os largos galhos dos seus chifres, ficavam presos nos galhos das árvores, impedindo sua fuga, para se por a salvo do seu agressor.

Desse modo, em pouco tempo, seu carrasco o alcançou até com facilidade. Então o infeliz Cervo percebeu que as pernas, das quais tanto se lamentara, com toda certeza o teriam posto a salvo do perigo, isso se aqueles vistosos e, naquele momento, inúteis e indesejáveis ornamentos de sua cabeça, não o tivesse impedido.

Moral da História: Com frequência nos preocupamos mais com o aspecto das coisas inúteis, e deixamos em segundo plano aquilo que de fato tem Valor. Somos sempre um composto de pontos fracos e pontos fortes. Trabalhar os fracos com a ajuda dos fortes é um gesto de sabedoria.

Fábula de Êsopo.

O fazendeiro e seus filhos


Um rico e já idoso fazendeiro, vendo que não lhe restava muito tempo de vida pela frente, chamou seus filhos à beira da cama, e lhes disse:

"Meus filhos, escutem com atenção o que tenho para lhes dizer. Não façam partilha da fazenda que por muitas gerações tem pertencido a nossa família. Em algum lugar dela, no campo, enterrado, há um valioso tesouro escondido. Não sei o ponto exato, mas ele está lá, e com certeza o encontrarão. Se esforcem, e em sua busca, não deixem nenhum ponto daquele vasto terreno intocado."

Dito isso o velho homem morreu, e tão logo ele foi enterrado, seus filhos começaram seu trabalho de busca. Cavaram com vontade e força, revirando cada pedaço de terra da fazenda com suas pás e seus fortes braços.

E continuaram por muitos dias, removendo e revirando tudo que encontravam pela frente. E depois de feito todo trabalho, o fizeram outra vez, e mais outra, duas, três vezes.

Nenhum tesouro foi encontrado. Mas, ao final da colheita, quando eles se sentaram para conferir seus ganhos, descobriram que haviam lucrado mais que todos seus vizinhos. Isso ocorreu porque ao revirarem a terra, o terreno se tornara mais fértil, mais favorável ao plantio, tendo como consequência, a generosa safra.

Só então eles compreenderam que a fortuna da qual seu pai lhes falara era a abundante colheita, e que, com seus méritos e esforços haviam encontrado o verdadeiro tesouro.

Moral da História: O Trabalho diligente é em si um tesouro.

Fábula de Êsopo.

A raposa e o macaco


O Hipócrita vive das aparências, mas as aparências acabam por revelar o Hipócrita...

Numa grande reunião, entre todos os animais, que fora organizada para eleger um novo líder, foi solicitado que o Macaco fizesse sua apresentação.

Ele se saiu tão bem com suas cambalhotas, pantomimas, caretas e guinchos, que os animais ali presentes não puderam deixar de ficar impressionados com toda aquela encenação e jogo teatral.

E entusiasmados com tamanha performance, daquele dia em diante, resolveram elegê-lo como seu novo Rei.

A Raposa, que não votara no Macaco, estava aborrecida com os demais animais, por terem eleito um líder, a seu ver, tão desqualificado, já que levaram em conta apenas as aparências, o espetáculo, coisas que para ela não tinha valor algum.

Um dia, caminhando pela floresta, ela encontrou uma armadilha com um pedaço de carne. Correu até o Rei Macaco e lhe disse que encontrara um rico tesouro, que nele não tocara, porque por direito, pertencia a sua majestade, o Macaco.

O ganancioso Macaco, todo vaidoso com sua aparente importância, e de olho na prenda, sem pensar duas vezes, seguiu a Raposa até a armadilha. E tão logo viu o pedaço de carne ali agarrado, foi logo estendendo o braço para pegá-lo, e assim acabou também ficando preso. A Raposa, ao seu lado, deu uma gargalhada.

"Você pretende ser um Rei," ela disse, "mas é incapaz de cuidar de si mesmo!"

Logo, passado aquele episódio, uma nova eleição foi realizada entre os animais, para a escolha de um novo governante.

Moral da História: O verdadeiro líder é aquele capaz de provar para si mesmo suas qualidades.

Fábula de Êsopo.

Dois viajantes e o urso


Dois homens viajavam juntos através de uma densa floresta, quando, de repente, sem que nenhum deles esperasse, à frente deles, um enorme urso surgiu do meio da vegetação.

Um dos viajantes, de olho em sua própria segurança, não pensou duas vezes, correu e subiu numa árvore.

Ao outro, incapaz de enfrentar aquela enorme fera sozinho, restou deitar-se no chão e permanecer imóvel, fingindo-se de morto. Ele já escutara que um Urso, e outros animais, não tocam em corpos de mortos.

Isso pareceu ser verdadeiro, pois o Urso se aproximou dele, cheirou sua cabeça de cima para baixo, e então, aparentemente satisfeito e convencido que ele estava de fato morto, foi embora tranquilamente.

O homem que estava em cima árvore então desceu. Curioso com a cena que viu lá de cima, ele perguntou:

"Me pareceu que o Urso estava sussurrando alguma coisa em seu ouvido. Ele lhe disse algo?"

"De fato, Ele disse sim!" respondeu o outro, "Disse que não é nada sábio e sensato de minha parte, andar na companhia de um amigo, que no primeiro momento de aflição, me deixa na mão!".

Não é sensato deixarmos nosso destino em mãos de terceiros...

Moral da História: A crise é o melhor momento para revelar quem são os verdadeiros amigos. Uma verdadeira boa ação não ocorre em momentos de fartura, mas de crise.

Fábula de Êsopo.

O leão e o inseto


Um inseto se aproximou de um Leão e disse sussurrando em seu ouvido: "Não tenho nenhum medo do Senhor, nem acho que o Senhor seja mais forte que eu. Se o Senhor duvida disso, eu o desafio para uma luta, e assim, veremos quem será o vencedor."

E voando rapidamente sobre o Leão, deu-lhe uma ferroada no nariz. Assim, o Leão, tentando pegá-lo com as garras, apenas atingia a si mesmo, ficando assim bastante ferido, e por fim, deu-se por vencido.

Desse modo o Inseto venceu o Leão, e entoando o mais alto que podia uma canção que simbolizava sua vitória sobre o Rei dos animais, foi embora cheio de orgulho, com ares de superioridade, relatar seu grande feito para o mundo.

Mas, na ânsia de voar para longe e rapidamente espalhar a notícia, acabou preso numa teia de aranha.

Então se lamentou Dizendo: "Ai de mim, eu que sou capaz de vencer a maior das feras, fui vencido por uma simples Aranha."

Moral da História: Quase sempre, Não é o maior dos nossos inimigos que é o mais perigoso.

Fábula de Êsopo.

Você tem razão!

Certa feita havia na sinagoga um rabino muito famoso, conhecido por sua ampla sabedoria e bondade.

Um dia, uma mulher vei falar com o rabino, e ela estava muito nervosa, dizia ela:

- Rabino, meu marido é um homem preguiçoso; não ajuda em nada nos afazeres do lar, chega em casa cansado e vai logo dormir ou assistir televisão, NÃO AGUENTO MAIS ISSO!

Disse o rabino, com voz calma e compassada:

 - Você tem razão!

E a mulher, satisfeita, finalmente foi embora.

No mesmo dia um homem, esposo da mulher que havia comparecido à sinagoga mais cedo, veio falar com o rabino e ele também estava muito nervoso, dizendo:

- Rabino, minha mulher só faz reclamar. Eu trabalho doze horas por dia para dar sustento ao lar, o que consigo com as bênçãos de Deus. Mas minha mulher, assim que chego em casa, começa a reclamar dizendo que não ajudo em nada; diz que só chego e vou dormir ou ver televisão, e ainda me pede ajuda para enxugar os pratos. NÃO AGUENTO MAIS ISSO!

Novamente disse o rabino, com voz calma e compassada:

 - Você tem razão!

O discípulo do rabino, que acompanhou o relato do marido e da esposa, sem entender a lógica, vem ao rabino e diz:

- Rabino, primeiro veio a mulher reclamando do marido e tu dissestes que ela tinha razão. Depois veio o marido reclamando da mulher e tu também dissestes que ele tinha razão. Eu não entendo, com todo respeito, acho que você está equivocado pois somente uma das partes deve estar correta.

Novamente disse o rabino, com voz ainda mais calma e compassada:

 - Você tem razão!

Moral da história: Do ponto de vista de cada um, todos têm razão.

O Sábio e o escorpião


Certa vez, na Índia, um sábio passeava, com seu discípulo, à margem do rio Ganges, quando viu um escorpião que se afogava.

Ele, então, correu e, com a mão, retirou o animalzinho e o trouxe à terra firme.

Naquele instante, o escorpião o picou. Dizem que é uma dor terrível. A mão do sábio inchou.

Assim que ele o colocou no chão, pacientemente, o escorpião voltou para a água. E ele, com a mão já inchada e aquelas dores violentas, vai e o retira novamente, e o discípulo a observar.

Na terceira vez que ele traz o escorpião, já com a mão bastante inchada e as dores violentas, ele o põe mais distante em terra.

Aí, o discípulo, já não suportando mais aquilo, diz: "Mestre, eu não estou entendendo. Este animal... é a terceira vez que o senhor vai retirá-lo da água e ele pica sua mão dessa maneira. O senhor deve estar sofrendo dores horríveis."

E ele, com a fisionomia plácida das almas que conhecem o segredo do bem, daqueles que já realmente conquistaram um território de amor e de renúncia no coração, que têm a visão das verdades celestes, vira-se para o discípulo e diz:

-Meu filho, por enquanto a natureza dele é de picar, mas a minha é de salvar!

O macaco e o golfinho




Um marinheiro levava consigo um macaco, no navio. O macaco divertia-o e a toda a tripulação.

De repente, o navio viu-se no meio de terrível tempestade: os fortes ventos e as grandes ondas quebraram o navio em pedaços.

O marinheiro, a tripulação e o macaco tiveram de lançar-se ao mar e nadar para não se afogarem.

Um golfinho viu o macaco debatendo-se à água e veio em seu socorro: o macaco montou nele e lá se foram até à costa. O golfinho pensava que o macaco era um homem e lhe perguntou:

- O senhor é ateniense?

- Sim, sou - respondeu o macaco. - E descendo de uma das mais importantes famílias de Atenas!

- Então você conhece o Pireu?

O macaco não sabia que o Pireu é o famoso porto de Atenas. E respondeu:

- Decerto. Conheço muito bem. É um dos meus melhores amigos.

O golfinho ficou tão zangado que atirou o macaco dentro d'água e afastou-se, nadando.

Moral da história: "Sempre se descobre a mentira".

Fábula de Êsopo.

A ostra e o caranguejo


Uma ostra estava apaixonada pela lua.

Quando seu grande disco de prata aparecia no céu, ela passava horas a fio, com as conchas abertas, olhando para ela.

Certo dia um caranguejo percebeu que a ostra se abria durante a lua cheia e pensou em comê-la.

A noite seguinte, quando a ostra se abriu, o malvado caranguejo jogou uma pedra dentro dela.

Nesse momento, a ostra tentou se fechar, mas a pedra a impediu.

Então o astuto caranguejo saiu de seu esconderijo, abriu suas pinças afiadas e quase comeu a ostra inocente, se não fosse um tubarão que apareceu das profundezas para assustá-lo.

Moral da história: é exatamente isso o que acontece com quem abre muito a boca para divulgar seus segredos. Sempre existe algum ouvido querendo se apoderar deles.

Leonardo da Vinci.

O cachorro e o burro


Na fazenda viviam muitos bichos: patos, porcos, galinhas...além de um burro e um cachorro. E todos eles ficavam esperando a hora em que o dono voltava do trabalho.

No entanto, quando ele chegava, somente o cachorro corria para lhe dar as boas vindas e fazer festa. O dono passava a mão na cabeça de seu fiel amigo.

Mas o burro, olhando a cena, pensava com tristeza:

"Meu dono não liga para mim! Ele só acaricia o cachorro!"
Um dia, querendo receber carinho, o burro ficou à espera do dono para também recebê-lo com festas.

Assim, quando o homem chegou, o burro relinchou festivamente e, para imitar o cão, ergueu as patas. O que aconteceu foi um desastre: desajeitado, ele acabou derrubando o dono no chão.

O homem, surpreso, deu ordens para que o burro fosse amarrado na cerca.

E ficou pensando: "Afinal, o que deu nesse bicho? Ficou louco? Está achando que é cachorro?"

No dia seguinte, ele precisou do burro para levar cestos de verdura à feira. E então, passando a mão carinhosamente na cabeça do animal, disse-lhe, para consolá-lo:

- Meu amigo, um burro é um burro e um cão é um cão. Um serve para carregar, o outro, para vigiar. E isso ninguém vai mudar.

Moral da história: "Cada um é o que é. Não se pode forçar a própria natureza."

La Fontaine.

O pastor e o lobo


Todos os dias, um jovem pastor levava um rebanho de ovelhas às montanhas perto da aldeia.

Um dia, por brincadeira, ele correu de lá de cima gritando:

- Um lobo! Um lobo!

O Habitantes da aldeia trataram de apanhar pedaços de pau para caçar o lobo. E encontraram o pastorzinho às gargalhadas, dizendo:

- Eu só queria brincar com vocês!

E, vendo que a brincadeira realmente assustava os aldeões, gritou no dia seguinte:

- Um lobo!

E novamente os moradores da aldeia trataram de apanhar suas armas de madeira.

Tantas vezes o fez que a gente da aldeia não prestava mais atenção aos seus gritos.

Mais uns dias e ele volta a gritar:

- Um lobo! Um lobo! Socorram-me!

Um dos homens disse aos outros:

- Já não acredito. Ele não nos engana mais.

E era de fato um lobo, que dizimou todo o rebanho do pastorzinho.

Moral da história: Ninguém acredita num mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade.

Fábula de Êsopo.

O galo e a jóia


Um galo estava ciscando no terreiro e, no meio da suja poeira, encontrou uma jóia.

- Ah - disse, triste, o galo - como ficaria feliz o meu dono se encontrasse esta jóia! Para mim, porém, ela é completamente inútil; eu preferiria ter achado um sabugo de milho . . .

Moral da história: O que para uns tem valor, para outros nada vale.

Êsopo.

Os camundongos


Um dia os camundongos se reuniram para decidir a melhor maneira de lutar contra o inimigo comum, o gato. Discutiram horas seguidas, sem encontrar um bom plano.

Afinal, um ratinho pediu a palavra e falou:

- Sabemos que o grande perigo é quando o gato se aproxima tão mansamente que não percebemos sua presença. Proponho que se coloque um guizo no pescoço do gato.

Graças ao barulho do guizo, saberemos da aproximação do gato, e teremos tempo para fugir.

Todos aplaudiram a idéia brilhante. Mas um ratinho mais experimentado pediu também a palavra e disse:

- A idéia é muito boa.

Mas quem vai pendurar o guizo no pescoço do gato?

Moral da história: "É mais fácil falar do que fazer."

Fábula de Êsopo.

O pescador e o peixe


Um pescador estava pescando e, depois de horas de pescaria, conseguiu apanhar um peixe muito pequeno.

O peixinho lhe disse:

- Poupe minha vida e jogue-me de novo no mar. Dentro de pouco tempo, estarei crescido e você poderá pescar um peixe grande!

O pescador respondeu:

- Eu seria um tolo se te soltasse por uma pescaria incerta . . .

Moral da história: "Mais vale a certeza de hoje do que a incerteza de amanhã."

Fábula de Êsopo.

O corvo e o jarro


Um corvo morria de sede e se aproximou de um jarro, que uma vez vira cheio d'água. Mas, desapontado, verificou que a água estava tão baixa que ele não podia alcançá-la com o bico. Tentou derramar o jarro mas era impossível: o jarro era pesado demais.

De repente, viu ali perto um monte de bolas de gude. Apanhou com o bico uma das bolas e jogou dentro do jarro. Depois outra. E outra mais. E outra. E a cada bola que jogava, a água subia. Jogou tantas bolas dentro do jarro que a água subiu-lhe até o gargalo. E o corvo pode beber.

Moral da história: "Onde a força falha, a inteligência vence."

Fábula de Êsopo.

O leao orgulhoso


Os bichos andavam alarmados, com medo do homem perigoso. Nem sabiam que jeito tinha, mas o leãozinho vaidoso convidou sua amiga, a patinha:

Venha ver, com ele vou lutar. Essa caçada, tão diferente, é o que agora vou contar.

Numa linda ilha no meio do mar, rica de árvores, de frutas, de flores, rios, lagos e cachoeiras, viviam em liberdade mil espécies de animais. O homem não tinha chegado até lá e nenhum dos animais que moravam ali o conhecia.

Certa noite, uma patinha que vivia nessa ilha teve um sonho maravilhoso.

Apareceu-lhe a rainha das patas, que lhe revelou um segredo, dizendo-lhe bem claro:

- Se você nadar três dias e três noites seguidas, em direção ao levante, encontrará uma terra encantada.

A patinha acordou e se pôs imediatamente a caminho. Depois de dois dias de viagem pelo mar, chegou à praia e se atirou na areia, quase morta. Tinha nadado tanto! Dormiu de cansaço e tornou a sonhar com a rainha que lhe dizia:

- Patinha, você se enganou! Eu disse para nadar para o levante e não para o poente. . . Vindo para cá, você cometeu um erro, pois aqui vive um ser terrível: o homem! Tome cuidado!

A patinha acordou sobressaltada. Cheia de medo saiu correndo à procura de um abrigo contra o ser terrível que se chamava homem.

Por fim encontrou um leãozinho, que de preguiça nem abriu os olhos quando lhe indagou:

- Quem é você e a que espécie animal pertence?

- Sou uma patinha, da família das aves. E você?

O leãozinho entusiasmou-se e respondeu cantando:

" Da floresta eu sou rei (por enquanto é o meu pai, mas um dia eu serei). Sou feroz e poderoso, todos ficam a tremer quando urro majestoso. Que raiva, se desafino e Mamãe fico a chamar."

A patinha tremendo de medo, pediu ajuda àquele personagem tão importante que tivera a sorte de encontrar, dizendo:

- Você, que é filho do rei da floresta, podia tentar liquidar o homem, para os animais viverem tranquilos.

- Você tem razão, patinha. . . Meu pai me aconselhou a fugir do homem, mas já estou bastante grande para atacá-lo. Venha comigo.

E o leãozinho pôs-se a caminhar seguido pela patinha, que tentava acertar o passo pelo dele, muito confiante.

- Veja, patinha! Que nuvem de poeira!

- Não será o homem? - indagou ela.

- Acho que não. . . -respondeu o leão. - É um quadrúpede!

Quando se aproximaram, indagou:

- Animal desconhecido, diga quem é!

Diante deles estava um burrinho, que disse:

- Pertenço à espécie asinina e estou fugindo do homem. Ele quer que eu trabalhe muito e coma pouco.

- Que vergonha! - falou a patinha.

- Você teve muita sorte em me encontrar - afirmou o leãozinho. - Estou conduzindo meu exército contra o homem.

- Que exército? - quis saber o burro.

O leãozinho não se apertou:

- Bem, por enquanto o meu exército é esta patinha. Mas, se você se une a nós, eu dou a você o posto de cabo e a patinha eu deixo como simples soldado.

- Aceito - concordou o burro, zurrando de satisfação com o posto.

A patinha não entendia nada de postos, por isso nem ligou. O pequeno exército continuou sua marcha em busca do homem. Daí a pouco apareceu no horizonte outra nuvem de pó.

O leãozinho ordenou:

- Batalhão. . . alto lá! Estão ouvindo um galope? - E, dirigindo-se ao cavalo que se aproximava, indagou - Quem é você e por que corre assim?

- Eu sou um cavalo, pertenço à espécie equina e corro para fugir do homem, que tem mania de montar nas minhas costas - explicou o recém chegado.

- Venha conosco e estará seguro - convidou o leãozinho.

- Vou mesmo com vocês - afirmou o cavalo.

- Batalhão. . . marche! - comandou o capitão leãozinho.

Retomaram o caminho até que o leãozinho ordenou:

- Batalhão. . . alto!

- Mais uma nuvem de pó - observou a patinha. - Quem será agora?

- Silêncio aí na tropa! Falo eu, que sou o comandante. Vejam! Era um camelo, por isso a nuvem de pó desta vez era tão grande.

- Sim, sou um camelo e estou correndo para fugir do homem.

- Não diga! Até você, que é desse tamanho? - admirou-se o leão.

- O homem tem algo mais que a força, é a astúcia - esplicou o camelo e isto o ajuda a vencer sempre.

- Veremos! - disse o leãozinho. - Vamos combater o homem. Quer vir conosco?

- De boa vontade- respondeu o camelo. - Quero ver o que vocês vão fazer quando o encontrarem.

- Batalhão. . . marche!

O leãozinho seguiu à frente da tropa, até que de novo ordenou:

- Batalhão. . . alto!

- Não estou vendo nenhuma nuvem de pó- observou a patinha.

- Silêncio aí na tropa! Quem fala sou eu! Não é nenhuma nuvem de pó. É um ser estranho que carrega madeira na cabeça e traz pendurada no braço uma caixa com os ferros!

- Não será o homem? - indagou a patinha.

- Batalhão. . . alto! - comandou o leãozinho. - Eu, que sou mais forte, vou descobrir quem é este ser estranho.

O ser era mesmo um homem, um carpinteiro, carregando madeira e ferramentas. Quando viu o leãozinho, planejou logo capturá-lo. Decidiu que o melhor meio seria usar astúcia e por isso falou manhoso:

- Filho do rei da selva, ajude-me, que estou em apuros.

O leãozinho achou que o estranho reconhecia sua superioridade e respondeu:

- Diga-me antes a que espécie pertence e qual é o seu problema.

- Pertenço à espécie dos carpinteiros e sou perseguido pelo homem.

- Venha comigo, que vou liquidar o homem - rugiu o leãozinho.

- Não posso ir junto porque tenho de levar estas madeiras que carregava na cabeça.

- Para quem você vai levar essas madeiras? - quis saber o leãozinho.

- São uma encomenda do ministro do pai de Vossa Alteza. Quer que eu faça uma casa para ele.


- E você vai fazer a casa da pantera, que é apenas o ministro do meu pai, antes de fazer a minha, que sou filho do rei da floresta?

- Posso fazer uma casa para você - assegurou o carpinteiro, mas eu nem sabia que você queria uma casa!

- Quero a casa e exijo que seja imediatamente - ordenou o leãozinho.

Conforme disse, o leãozinho ergueu as patas da frente e empurrou o carpinteiro pelos ombros fazendo-o perder o equilíbrio e cair sentado no chão.

- Quero que faça uma casa para mim.

- E a pantera? - indagou o carpinteiro.

- A pantera que se dane! Comece logo a minha casa.

O carpinteiro que era muito manhoso, tinha conseguido o que queria. Desde o começo que não contara que era um homem, fizera o plano de aprisionar o leãozinho e só para lográ-lo inventara essa história de construir uma casa.

Quando o trabalho já estava quase pronto, disse com muito jeito:

- Experimentar para quê?

- Não quero que depois você se queixe que ficou muito estreita ou mal ventilada - explicou o carpinteiro.

O leãozinho meteu-se na caixa, embora com certa dificuldade, queixando-se:

- Puxa! Não consigo enfiar todas as pernas aqui dentro!

O carpinteiro estimulava:

- Precisa um pouquinho de jeito para morar em casa.

O leãozinho suava para acomodar-se e dizia:

- Já estou quase dentro.

- Força, amigo!

- Agora vou experimentar o teto - falou o carpinteiro.

O carpinteiro bem depressa colocou a tampa na caixa e pregou com marteladas rápidas e seguras. Lá dentro o leãozinho gritava:

- Carpinteiro! Abra a porta, que a casa é muito estreita.

- Mais estreita vai ser a jaula - respondeu o carpinteiro.

- Você queria matar o homem e o homem aprisionou você.

- Quer dizer que você é um homem? - admirou-se o leãozinho.

- Claro que sim - afirmou o carpinteiro. - E venci sua força e ferocidade com minha astúcia e inteligência.

Ao verem o que acontecia, o burro, o cavalo, o camelo e a patinha acharam que estava dissolvido o batalhão de caça ao homem.

O burro comentou: O leãozinho caiu como um pato.

A patinha respondeu: - Deixou-se prender como um burro, isso sim!

O cavalo aconselhou: - Melhor voltarmos à nossa vida de antes.

- Acho que eu tenho mesmo é que puxar carroça - disse o burro.

- E eu de carregar o homem - conformou-se o cavalo.

- Eu vou me reunir a uma caravana no deserto - foi a despedida do camelo, afastando-se do grupo.

A patinha tomou o rumo do mar e se pôs a nadar em direção a sua ilha rica de árvores, frutas, flores, rios, lagos e cachoeiras, onde o ser terrível e astuto, chamado homem, não tinha chegado ainda.

Fábula Oriental